No coração de Lordelo, está localizado o Café Malga, símbolo de tradição e convívio, sendo dos mais antigos da freguesia. Com mais de meio século de história, este estabelecimento viu passar gerações e testemunhou mudanças ao longo do tempo. À frente deste espaço encontram-se António Moreira e Maria da Conceição, um casal que há três décadas assumira a responsabilidade de manter vivo o legado do café.
“Pode contar-nos há quantos anos abriu o café?” – indagou-se a António Moreira, também conhecido por ‘Armando’, enquanto este se acomodava numa das cadeiras da esplanada. “Há uns bons 55 anos”, começou por referir. “Foi o meu sogro que deu início a tudo isto. Naquela altura, o café até tinha portas à cowboy”, acrescentou.
“E quando é que assumiram a gerência?” – questionou-se, enquanto ao lado passava mais um cliente desejoso por beber um café. “Assumi o café há 30 anos, já com a minha esposa”, respondeu com um sorriso afável. “Foi após o falecimento da minha sogra. O meu sogro quis passar o negócio adiante, e como a minha esposa já estava habituada a estas lides, e os outros também não manifestaram interesse, acabámos por ficar com o estabelecimento. Desde então, temos dedicado toda a nossa energia a este lugar tão especial.”
Os clientes fiéis, as histórias antigas e os momentos marcantes foram temas de destaque na conversa. E à medida que avançava, tornava-se evidente que o Café Malga era muito mais do que um simples local para uma bebida ou um petisco. Era um ponto de encontro onde as relações se fortaleciam e as memórias se criavam.
“Ainda têm clientes que frequentam o café desde os primeiros tempos?” – perguntou-se. “Sim, desde o início, e fecharmos as portas, será um choque para eles. Estão tão habituados a este ambiente familiar, que seria difícil encontrarem um lugar para sibstituir o Café da Malga”, acrescentou, com um misto de orgulho e gratidão.
“Já me habituei a esta rotina e dou-me bem com toda a gente. São como uma segunda família para nós.”
A conversa continuou, revelando a longa história do Café Malga e dos planos futuros do casal. Aos poucos, os clientes terão de esperar por mudanças.
“Vou fazer 66 anos e estou a pensar ir fechando lentamente. A partir de agosto vou começar a fechar sempre aos domingos à tarde. Eu vou para a reforma, a minha esposa já está. Estou aqui há 30 anos, mas ela já está aqui há 50. Não vamos estar a trabalhar a vida toda”, justificou.
Esta decisão vai apanhar os clientes de surpresa. “Ainda não os avisei. É novidade, mas fechar ao domingo à tarde não será nenhum choque. Por isso, vou fechando lentamente para os ir habituando.
Só costumava fechar no Natal, Ano Novo e na Páscoa. De resto, estou sempre aberto, estou aqui todos os dias. Vou começar por fechar aos domingos à tarde. Vou abrir de manhã porque junta-se aqui muita gente e também não me custa nada estar aqui até ao almoço”, explicou.
Apesar desta decisão, António Moreira garante que os petiscos continuarão a ser servidos.
“As pataniscas, as moelas e os panados são muito procurados e continuarão a sair…”, garantiu.